domingo, 12 de setembro de 2010

Inferências


Cadê você que deixou no ar um cheirinho de não sei o que;
Um gostinho de querer mais
E uma vontade de estar mais perto?

Cadê você que alongou meus sentimentos
Acalmou minha razão
E mexeu com meu jeito de ser?

Você passou por mim e
Eu estive ausente em sua partida
Mas aguardo ansiosamente sua chegada...
(a alguém que quero conhecer melhor)

domingo, 2 de maio de 2010

Você

Você…você é tudo o que eu queria...
Tudo o que anseio que a ilusão me dê...
O meu sonho de amor de todo dia
Que nos meus olhos úmidos se lê...
Minha felicidade fugidia
O meu sonho é você...

Você…você é a própria poesia
De tudo quanto em volta a mim se vê.
Se Deus quissesse dar-me certo dia
Tudo aquilo que eu quero que me dê,
Eu, sem pensar ao menos, pediria
Que me desse você!

Sonhos…glória imortal…seria um louco
Pedir tanta ilusão…não sei por que,
Mesmo a ventura, que possuo tão pouco,
E tudo o mais que a vida ainda me dê,
Fortuna…amor…tudo eu daria, tudo,
Por você!

É que você tem todos os venenos...
É que seus lábios tem um não sei que...
Os olhos de você são dois morenos
Que andam fazendo à noite cangerê
Por tudo isso, eu pediria, ao menos,
Um pedacinho de você!

Rumos

Foi assim a derrota projetada:
Um só destino para os dois, um só,
E uma infinita e silenciosa estrada...

Vê quantas vezes infantis nós somos:
Para o meu grande sonho de Jacó,
Nem eu fui, nem tu foste, nem nós fomos...

Antes de ali chegarmos te perdeste;
Pouco faltava quando te perdi...

Tu - para a vida desapareceste...
Eu - rumo à vida, desapareci...

A espera

Quando se sonha um bem e uma quimera
E uma ilusão se aspira conquistar
Põe-se a alma no azul, a face austera

Se ergue,de encontro, ao sol a flamejar
E, aberto o coração, fica-se à espera
Sobre as pontas dos pés, as mãos no ar!

Eu assim te esperei; mas tão intenso
Foi meu esforço de esperar-te em vão,

Que me estendendo a mão, agora, penso
Que a tua sombra é que me estende a mão...

Explicações...

É pela primeira vez que posto aqui no blog algumas poesias que não são de minha autoria e se assim estou fazendo é porque tenho a intenção de divulgar este poeta que não é conhecido no Brasil, mas que é conhecido no exterior: Judas Isgorogota, cujo nome verdadeiro é Agnelo Rodrigues de Melo, nascido em Lagoa da Canoa em Alagoas. Inspirado em Bocage, Cesário Verde e Augusto dos Anjos, Isgorogota iniciou as primeiras tentativas poéticas durante a Primeira Guerra Mundial. Apesar de se inspirar nestes poetas de renome, o que escreveu é produção estritamente sua, o que se percebe pela suavidade das rimas e das estrofes e pelo jeito simples de fazer poesia. Certa vez pediram-lhe a definição de poesia ao que ele respondeu: “Poesia não se define. Vive-se com humildade, ama-se com enlevo, luta-se com tenacidade, sofre-se com resignação. Sente-se com humanidade, com heroísmo e com fé. É então que, bafejado pela graça divina, escreve-se com ternura e muitas vezes, com lágrimas…”

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Filósofo Apaixonado


Às vezes penso que posso dizer tudo o que os outros não dizem;
Mas é verdade que também as vezes;
As letras não se juntam em palavras
E sem estas o discurso se finda...
Então é momento de olhar os olhos
Beijar a boca, sentir a pele...
E deixar falar o coração.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Má o meno!!!


A vida não lhe havia sido fácil até então. E as especulações a respeito de sua existência? Eram incontáveis perguntas que lhe assombravam a mente e que mais o assustavam quando se punha a correr deseperadamente, na linha da imaginação, à cata de ao menos uma resposta para cada uma delas. Havia adquirido o hábito de falar as coisas pela metade, o que não se sabe se foi por mitidez ou ignorância mesmo. Seu raciocínio lento, quase sempre ilógico ao analisar situações vividas ou experimentadas, o levou a constatar que os extremos não servem para muita coisa, além de colocar as pessoas num oposto, a ponto de poderem olhar a vida de um canto apenas. Talvez nisso tivesse mesmo razão, pois já dizia o sábio Aristóteles que "a virtude está no meio e que tudo o que pende para a falta ou o excesso de alguma coisa é vício", e Francisco, ou "Chico", como era carinhosamente chamado, levou essa constatação a todas (note o leitor, quis mesmo dizer todas)as possíveis e impossíveis situações da vida. E como tinha o hábito de falar pela metade, criou por si mesmo a afirmação "má o meno" (ou seja,mais ou menos) para tudo. E era feliz; afinal,juntara o hábito com uma constatação inegavelmente sua. Note o leitor que a ideia de mais ou menos expõe a impressão de meio termo, o que leva a constatar o equilíbrio.
-Como está a esposa?
-Má o meno!
-Já ganhou o neném?
-Má o meno!
-Como mais ou menos? Ou ganhou ou não ganhou...
E a conversa prosseguia.
-O senhor vai completar dez filhos, seu Chico?
-Má o meno!
-Não entendo.Como mais ou menos?
-Ara pode sê que nasça gêmeo, aí é onze...
Certa vez, Chico precisou se internar. Quando saiu do hospital, dez dias depois, os vizinhos quiseram saber:
-E aí Chico? Melhorou?
-Má o meno!
-Sua esposa disse que estava com uma infecção muito forte. É verdade?
-Má o meno!
-Também numa dessa o senhor bate as botas?
-Má o meno!
-Pense só! já está a fazer setenta anos né?
-Má o meno!
Era sempre a mesma resposta, o que pode levar o leitor a pensar ser Chico um verdadeiro imbecil. Quando completou setenta e cinco anos, Chico sumiu. Nem seus próprios filhos sabiam de seu paradeiro e a conversa que girava nas rodas era a de que ele decidira dar um rumo "má o meno" na sua vida. Passado alguns meses de seu sumiço, ele reapareceu ao convívio familiar e viveu com os seus mais alguns anos.
No entanto, a finitude da existência não admite o meio termo e Chico morreu. Depois de seu velório e sepultamento, o boato que passou a correr na pequena e pacata cidade era de que,como Chico acreditava, ele também morrera mais ou menos.Há até quem jure de pé junto que, quando faz alguma pergunta, sempre ouve ao pé do ouvido a seguinte resposta:
-Má o meno!

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Hibernação...


Passei um bom período de tempo dentro de uma caverna: vontade de ver o mundo, mas também medo de sentir frio. Precisava queimar as resistências que ainda insistiam continuar existindo e desprender- me de conceitos e ideias preestabelecidas. Não sei ao certo contar quantos dias lá estive, mas sei que senti fome, cansaço, sono e sede também. A necessidade de buscar o calor, mesmo cercado por gelo, me fez olhar dentro de mim, afinal, eu era minha própria fonte de calor e era em mim mesmo que precisava me concentrar. E foi assim que me lancei em meu sangue e percorri minhas veias até adentrar meu coração, onde se acredita estar os sentimentos e pude olhar de dentro para fora o quanto tenho andado esquecido, omisso; o quanto me desviei de pessoas que deveria amar; quantas datas sem serem lembradas com ao menos uma palavra; Natal, Ano-Novo, meu próprio aniversário, o Carnaval e nada...eu me deparei com um eu vazio de ideias e pior do que isso, um eu vazio de ações, que são as coisas mais importantes e que podem de fato, mudar alguma coisa nesse mundo do qual tanto reclamo as vezes. Aí pude reunir forças, ter a coragem suficiente de colocar minha cara fora da caverna, enfrentar o frio, na busca de alguma coisa nova, que pudesse dar alento e sentido, rebuscar novas ideias e conceitos em minha mente tão deflagrada por ideologias mesquinhas e sem valor...e posso afirmar: passei frio, mas encontrei alimento e meus sentidos de atenção voltaram...com isso recobrei meus antigos (antigos???) hábitos de escrever, de colocar ideias em histórias e deixar isso tudo para a posteridade...aliás acredito piamente que a escrita é a melhor forma de transmitir conhecimento, seja ela em livros, internet entre outras formas. Peço desculpas pelo tempo alheio, eu precisava me recompor...novas histórias virão, novas poesias também, enquanto eu vou vivendo essa minha devassa vida de POETA....-

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Finda o seco



Acabou-se o seco
O seco profundo
O seco intrínseco
Que devasta o mundo.

Acabou-se o seco
O seco imundo
Da miséria, da pobreza, da maldade
Do que desnuda a fundo
O mistério da humanidade.

Acabou-se o seco
E seco foi dizendo
Que o mundo morre
Que morre o sentimento
Que morre o homem
Que tudo está morrendo.

E suas palavras rudes
Foram convencendo
De tal modo que de fato
Tudo foi se desfalecendo...

No fundo só ficou a esperança
Com sua atitude bravia
Tendo a firme certeza
Que tudo renasceria
E que somente o seco
O seco profundo, intrínseco
Imundo se acabaria.


P.S. O seco tratado aqui se relaciona com tudo o que é ruím na humanidade...

terça-feira, 10 de novembro de 2009

A força de Sansão


Cem, cento e cinquenta quilos. Os músculos chegavam a enrijecer e foram muitas as vezes que travavam de tal modo que a ajuda do personal se fazia necessária, afim de evitar um acidente. Já imaginou sair estampado na primeira pagina do jornal: “Praticante de atividade física é morto por cento e cinquenta quilos”. Ai o leitor relapso poderia ficar imaginando de que seriam esses quilos todos, se não se preocupasse em ler a reportagem inteira. Talvez se colocassem uma foto com o pescoço deflagrado ou quem sabe uma caricatura do desastre, tudo ficaria mais fácil de ser entendido. Com certeza médicos ortopedistas pelo exame pos mortis, tentariam recompor a trajetória da barra de ferro antes de atingir o pescoço da personagem dessa crônica. Mas não é esse o assunto que se pretende narrar aqui, mas sim um episódio hilário que aconteceu com a personagem.
Henri ia a academia à tarde, quase sempre com o sol a pino e o calor sufocante, principalmente no verão, quando tudo parecia se multiplicar. Mas era acostumado a esse calor. Sua alta estatura, seu corpo robusto e forte, esculpido por anos de academia já havia se habituado a tais condições. Acontece que, na semana tida como a mais quente do ano de 2009, quando sentado e sem fazer movimentos já se suava muito (agora imagine o leitor se o individuo se exercitasse), Henri foi acometido de um resfriado. Todos sabem o quanto um resfriado é capaz de amolecer qualquer corpo, ainda mais no calor. E Henri então suava muitíssimo, sem falar da falta de ar que sentia por causa da coriza que lhe tapava o nariz, restando-lhe o recurso de respirar pela boca. Quando estava no meio do seu treino diário e como diz o caipira “aperreado” de tanto cansaço, lembrou-se de pedir auxilio a algum santo, talvez protetor dos atletas. E foi assim que perguntou a um outro individuo que treinava também no mesmo horário.
-Roberto, você conhece algum santo que seja bombadão, saradão, do tipo que seja protetor de atletas?
Roberto como bom conhecedor desta área, pois quando mais novo havia estudado muito a vida dos santos respondeu:
-Bom, de momento não me recordo de nenhum...
- Não tem um tal de Hércules?-perguntou Henri.
-Mas Hércules faz parte da mitologia grega, foi um herói e não um santo...
Foi então que Henri tomou um ar reflexivo, pensou um pouco e disse:
-Ah, tem Sansão...
-É, Sansão faz parte da história bíblica, mas ao que me consta não é considerado santo-concluiu Roberto.
-Verdade. Ele tinha forca nos cabelos né?
-Sim, cabelos esses que foram cortados pela traição de Dalila.
A conversa cessou por ai, mas o que se ouviu uns instantes depois, fez a academia toda se sacudir em risada. Até o personal serio e centrado não pode conter o riso. Henri, no auge de seu cansaço, com a roupa toda molhada de suor e ainda com muitos exercícios a fazer, olhou para o alto, levantou as mãos e gritou com força:
-Sansão... Dê-me a força de seus cabelos!!!